Problema de Expressão: Apaixonados

Thursday, January 08, 2009

Apaixonados


Sem tema fixo vagueio pelas palavras ao som de um fado, para que a força da música me vá indicando o caminho. Vou tremendo conforme os impulsos da voz grave e vão surgindo pensamentos sobre o amor de alguém e as alegrias de quem vive apaixonado. Por todos os que caminham acompanhados – como eu – por aquela estrada da felicidade sem fim, eu sorrio. A cada passo os apaixonados vão colhendo uma pedra de forma irregular e juntos a vão polindo, tornando-a agradável ao toque e à vista. Edificam sem dar conta uma estrutura envolvente que, de pedra construída, transmite a confiança, a força e a esperança de que o futuro será como o presente – de cor sólida e garrida. Venham as águas descontroladas do céu, os ventos fortes, os bastões do inferno e até os medos do subsolo que, para os apaixonados – como eu, o chão não treme.

Conscientes do amor vamos de mão dada para o destino que escolhemos para nós. Aos apaixonados a vida dá a permissão de sentir a emoção sem limites, de abrir o peito e receber em si a força do universo. Sonhadores, os apaixonados olham sobre os ombros e vêm a paisagem nítida, desenhada ao som de um piano. Balançam o corpo suavemente e – como eu – respiram um para cima do outro como prova da sua união. Trocam a alma em intensos beijos de língua e – como eu – fundem-se, dizendo em silêncio que o seu amor é único.
Os corpos tocam-se vezes sem conta e, sem rodeios, pedem para não descolar, desejando sentirem o calor que só o sol conhece. Rasgam-se as páginas dos livros em branco, porque aos apaixonados não se exige a escrita. Exige-se a vida em conjunto, que fica marcada no ser, nas veias, na pele, nas formas de expressão facial. A marca nunca se apaga para quem amou e aos que amam agora – como eu – fica a vontade de marcar em cada milímetro do corpo e da alma a paixão que nos alimenta. Numa mistura explosiva de cor que cega quem os rodeia, os apaixonados envolvem-se para além da realidade e vão – como eu – até ao êxtase de viver no transcendente. Desejando ficar neste estado de levitação, os apaixonados – como eu – deixam sempre em aberto a alma para que a presença do outro não acabe nunca.

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