Problema de Expressão: January 2009

Friday, January 30, 2009

Chuva


As gotas indisciplinadas olham para nós através do vidro sujo. Servem-se da luz débil do dia para nos questionarem sem descanso sobre o que pensar, sentir e até fazer. Sem compaixão por aqueles que as consideram bonitas, a chuva cai sobre todos e provoca as reacções mais surpreendentes, numa mistura de ódio com amor, desejo e repulsão, frio e calor, tristeza e alegria… Adoram semear o caos e escorrem pelas superfícies a rirem-se de nós, porque não temos a sua capacidade de aparecer e desaparecer numa evaporação cheia de prazer. Pouco lhes importa estes pensamentos reflectidos sobre a sua existência, pois só nos querem provocar, seja qual for a nossa vontade. Resistentes à quietude, olham para nós com tanto movimento de corpo que nos sentimos a balançar no seu ritmo.
Chamam por nós e conquistam-nos pela reacção física. Quando damos conta estamos no exterior, de rosto voltado para o céu, a senti-las a invadir a nossa pele e a arrefecer o nosso sangue. Respiramos fundo e temos um orgasmo de sensações diferentes que levam a nossa mente para bem longe do mundo real. Adoram ser transcendentes e fazer com que o ser humano acredite que pode levitar e ausentar-se do seu corpo. Verdade ou não, elas conseguem o que querem e se não tivermos alguma força em pouco tempo nos fazem fechar os olhos. Desorientam-nos, deixam-nos confusos mas também felizes e de energias renovadas.
Por mais feio que nos pareça a forma como as gotas surgem, é bom recebe-las. Sintam-nas, maiores ou mais pequenas, frias ou mais quentes… sabem bem ao toque. Fechem os olhos e mergulhem no vazio preenchido que é estar à chuva e sentir as gotas… ups… Caiu-me agora uma gota nos lábios… vou fechar os olhos e receber o beijo…

Thursday, January 29, 2009

Amo-te


O teu olhar hipnotiza-me e rompe a armadura,
O teu toque faz-me ferver e pára o tempo,
O teu cheiro faz-me voar e toco na nuvem da paixão,
O teu sorriso muda a cor do mundo e faz-me arder de emoção,
O teu beijo é único e faz-me entregar as chaves do coração,
A tua saliva invade o corpo e viro o amante imortal,
Porque a tua presença clareia a noite e faz o sol brilhar na eternidade,

Amo-te.

Thursday, January 08, 2009

Apaixonados


Sem tema fixo vagueio pelas palavras ao som de um fado, para que a força da música me vá indicando o caminho. Vou tremendo conforme os impulsos da voz grave e vão surgindo pensamentos sobre o amor de alguém e as alegrias de quem vive apaixonado. Por todos os que caminham acompanhados – como eu – por aquela estrada da felicidade sem fim, eu sorrio. A cada passo os apaixonados vão colhendo uma pedra de forma irregular e juntos a vão polindo, tornando-a agradável ao toque e à vista. Edificam sem dar conta uma estrutura envolvente que, de pedra construída, transmite a confiança, a força e a esperança de que o futuro será como o presente – de cor sólida e garrida. Venham as águas descontroladas do céu, os ventos fortes, os bastões do inferno e até os medos do subsolo que, para os apaixonados – como eu, o chão não treme.

Conscientes do amor vamos de mão dada para o destino que escolhemos para nós. Aos apaixonados a vida dá a permissão de sentir a emoção sem limites, de abrir o peito e receber em si a força do universo. Sonhadores, os apaixonados olham sobre os ombros e vêm a paisagem nítida, desenhada ao som de um piano. Balançam o corpo suavemente e – como eu – respiram um para cima do outro como prova da sua união. Trocam a alma em intensos beijos de língua e – como eu – fundem-se, dizendo em silêncio que o seu amor é único.
Os corpos tocam-se vezes sem conta e, sem rodeios, pedem para não descolar, desejando sentirem o calor que só o sol conhece. Rasgam-se as páginas dos livros em branco, porque aos apaixonados não se exige a escrita. Exige-se a vida em conjunto, que fica marcada no ser, nas veias, na pele, nas formas de expressão facial. A marca nunca se apaga para quem amou e aos que amam agora – como eu – fica a vontade de marcar em cada milímetro do corpo e da alma a paixão que nos alimenta. Numa mistura explosiva de cor que cega quem os rodeia, os apaixonados envolvem-se para além da realidade e vão – como eu – até ao êxtase de viver no transcendente. Desejando ficar neste estado de levitação, os apaixonados – como eu – deixam sempre em aberto a alma para que a presença do outro não acabe nunca.

Wednesday, January 07, 2009

09


Resoluções para um novo ano, projectos no pensamento, pedaços de desejos que vou colando com o passar dos dias. Dúvidas e medos também preenchem o meu calendário emocional e procuro distribui-los para dias que não existam. A pressão de organizar aquele que será o ano do “renascimento” toma conta de mim e traduz-se por vezes num nível de irritação incontrolável e avassalador para todos os que me rodeiam.
Respiro fundo e sem conseguir fugir aos acontecimentos de 2008, sei que mudei e que perdi em parte da vontade de sorrir ao acordar. Aqui está o principal objectivo do novo ano, aprender a sorrir com vontade, a gargalhar com o despertador, a chamar nomes ditos “feios” ao aparelho que me obriga a sair da cama quente. Quero voltar a ser Eu e sei que vai ser possível. Conheço-me. Sei que chego lá, mas preciso de ir moldando as minhas atitudes impulsivas e irreflectidas.
Dia-a-dia vou aprender de novo a ganhar confiança em mim, a colocar-me como o centro do meu mundo, sorrir, olhar ao espelho e ver uma vida que vale o esforço. Encontrar-me e Sorrir vai ser o grande desafio do ano que marca a passagem a outra fase. Tenho parte dos elementos que me podem ajudar nesta demanda e tenho no espírito a vontade aventureira de procurar os que faltam. Possuo o fogo que me queima as veias e activa o organismo, ordenando que o andar seja veloz e intenso.
2009 será um ano intenso e com a garantia de que irei sorrir muito, porque assim sou eu, um ser de sorrisos.