
Agora choro e finjo não saber a razão de tais lágrimas cruéis que me rasgam o rosto e me deixam cicatrizes na alma. Minto aos outros quando esboço um sorriso que não é sincero nem alegre, mas sim carregado de amargura e de sofrimento. Procuro acreditar que tudo é passageiro e que a vida é feita de problemas que têm de ser enfrentados.
Mas há dias, como hoje, em que as forças desvanecem e fico vulnerável a qualquer palavra mais agressiva. Tento manter-me sereno, empregando sempre respostas aparentemente firmes e determinadas, mas cuja base é o tremer do meu coração.
Vivo no meio de gente... gente anónima que procura conhecer-me e eu não deixo. Quero guardar tudo para mim. Quero sentir-me seguro. Mas as perguntas rompem com a estabilidade aparente do meu dia-a-dia e não sei que resposta dar. Não sei o que posso ou não dizer e dizem-me: não sabemos nada de ti. E eu será que sei? Será que sei que sou firme, forte e determinado? Ou não passo de um ser falso e inseguro que procura uma estabilidade medíocre para levar a sua vidinha em frente?
... não consigo obter resposta a tais questões...
Mas sei bem o que sinto. Sinto-me perdido, sem nenhum braço que me puxe das areias movediças da vida. Olho-me ao espelho e repito: és feliz. Em parte sou... mas falta-me algo. Falta-me a partilha com as pessoas de quem gosto. Falta-me a coragem de dizer “amo-te” a quem amo de verdade. O tempo passa e ficam palavras soltas no ar que nunca foram materializadas. Ficam carinhos por dar e uma vida por partilhar.
Como posso sentir-me livre se vivo num mundo isolado de quem me é mais próximo?
Reconheço as suas preocupações, mas sinto o seu sufoco transposto para a minha vida.
Com quem posso contar? Que mudança posso colocar em marcha? Terei força?
Num gesto dramático e que pouco me caracteriza, preciso de saber e sentir que tenho alguém para além de mim. Que tenho uma força externa que me pode ajudar em caso de desmoronamento.
Tapo os ouvidos para nada ouvir... quero fugir desta gente que de tanto me amar só me pressiona. Quero olhar outros horizontes que realcem a minha génese e o meu carácter.
Lágrima.... dor... lágrima... dor. Eis a sequência desta noite.
Sinto-me tão só e perdoem-me quem me ama e quem eu amo. Mas sinto-me só deitado na cama fria e anónima no mundo. A vida feita de mentira gera este sentimento cíclico. São crises de identidade que procuro ultrapassar com normalidade, mas as lágrimas não escondem que de dia para dia o agudo da dor se intensifica.
Não me apetece acordar amanhã. Não me apetece comer. Não me apetece nem ver, nem ouvir. Não quero ninguém aqui, mas quero todos junto a mim. Contradição?
A vida é feita delas e eu sou a prova disso:
Sinceridade / falsidade;
Tristeza /alegria;
Só /acompanhado;
Preciso de dormir... amanha é um novo dia e o mundo não pára apenas porque não sei o que faço aqui... Lágrima...